Em entrevista ao podcast “Ponto a Ponto”, o ex-prefeito de Maringá e atual secretário de Planejamento do Paraná, Ulisses Maia, revisitou quatro décadas de atuação pública e fez análises contundentes sobre a administração local, estratégias de comunicação, os impactos da pandemia e o cenário eleitoral de 2026.
Desde adolescente envolvido em centros estudantis e filiações partidárias, Ulisses destacou que aos 27 anos tornou-se presidente da Câmara Municipal, tendo implementado iniciativas como as transmissões das sessões pela televisão — “a transparência muda comportamento”, afirmou. Ele reforçou que sempre buscou presença constante, seja por meio de atendimento diário no gabinete, cartas porte-pago ou transmissões ao vivo, para evitar o típico “sumiço do eleito”.
Um trecho forte da conversa refere-se às críticas à gestão atual da cidade, sob comando de Silvio Barros. Maia questionou o reajuste do IPTU que beira 30 %, observando que Maringá dispõe de superávit financeiro e crescimento vegetativo elevado, ao passo que o Estado reduziu o IPVA após equilibrar contas. “A própria administração comemorou aumento de arrecadação dias antes de propor o reajuste. A transparência precisa vir antes do boleto”, provocou.
Além disso, criticou cortes em programas sociais de baixo custo e alto impacto — como “TEA em Ação”, “Brincar na Rua” e “Esporte para Todos” — bem como atrasos na entrega de uniformes e kits escolares da rede municipal. “Não foi maldade, mas foi falha. E falha tem consequência”, avaliou.
Sobre a pandemia, Ulisses considerou o período o mais difícil de sua carreira, com protestos em frente à sua casa, buzinaços que assustaram os filhos e forte pressão de setores contrários às medidas restritivas. Ele manteve convicção: “Se precisava escolher entre prejudicar parte do comércio ou salvar vidas, eu escolhi salvar vidas.”
Na função de secretário de Planejamento, explicou que a pasta coordena o planejamento estratégico do governo estadual — do orçamento anual a grandes obras. Citou o plano de descarbonização com foco em biogás, biometano e hidrogénio, além da construção em Araucária da que se tornará a maior fábrica de hidrogénio da América Latina. Também destacou o papel da “Paraná Projetos”, o programa “Conecta 399” de acompanhamento municipal e a criação da “Escola do Planejamento” para capacitação técnica de administradores públicos. Para Maringá, mencionou investimentos como R$ 450 milhões liberados para o Contorno Sul, além de recursos para infraestrutura urbana, estradas rurais e saneamento.
Quanto às eleições de 2026, Ulisses projeta continuação do tom polarizado no cenário nacional. Avalia que se Tarcísio de Freitas não concorrer, o Ratinho Júnior pode emergir como principal nome da direita, com o Paraná em destaque. Sobre sua própria trajetória, disse estar “à disposição” do grupo político, apto a disputar cargos de deputado a governador — “mas a candidatura vem depois da entrega”.
Por fim, o ex-prefeito revelou o lado humano de sua jornada, desde o pai grego que migrou para o Brasil, a mãe mineira, os 11 irmãos, e a esposa psicóloga — reconhecendo que, embora saiba lidar com críticas, “a família nem sempre. E isso dói.” A entrevista uniu passado e presente, técnica e emoção, gestão pública e disputa política — retratando Ulisses Maia como gestor, comunicador, estratega e cidadão.
Autor: Nikolay Sokolov
